(Jornal de Caçapava, 27 de junho de 2014.)
Deveríamos escolher essa profissão por total encantamento com o conhecimento que produzimos. Sim, o conhecimento deveria ser a motivação principal. Ter a curiosidade de entender como a humanidade se constrói e reconstrói a partir do saber.
Você pode estar se indagando: “mas não deveria ser o gostar das crianças, adolescentes e jovens, o motivo principal?”. No meu entender, o afeto deveria estar implícito em toda relação entre os seres vivos, assim como o respeito à diversidade. Lembro-me de uma professora, na faculdade, que nos dizia que se gostávamos tanto das crianças que fôssemos atuar como babás, monitores de festas infantis e parques de diversão. Não chego a tanto em minha consideração, mas entendia o que ela queria nos dizer.
Professores são profissionais que trabalham com o conhecimento. Está em nossas mãos e sob nossa responsabilidade democratizar o acesso ao conhecimento. Possuímos a ferramenta que pode diminuir a desigualdade entre nós. O conhecimento que produzimos não nos pertence, pois nada do que criamos o fazemos sós. Todo o saber da humanidade é uma construção coletiva e permitir, por vontade própria, que o saber permaneça nas mãos de uma minoria é mais que uma irresponsabilidade, é uma incompetência enquanto profissionais que somos.
Eu sei aquela lista enorme de dificuldades que enfrentamos, todos os dias, aula a aula, eu também as enfrento e não é fácil. Mas sempre teremos em cada turma alguns olhos curiosos, olhos cheios de empáfia (às vezes) por não terem as respostas que procuram. São esses olhos que não podemos nos negar a enfrentar. Dizer-me que todas as salas de aula são repletas de seres que não querem saber é subestimar a experiência desses anos todos que venho trabalhando, cobrando (às vezes até brigando), exigindo, tentando plantar sonhos, me desgastando. Em muitos momentos, quase me desencantando, mas nunca só passando pelas salas de aula.
Continuaremos nossas considerações.
Sônia Gabriel
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