(Jornal de Caçapava, 23 de janeiro de 2015.)
Estamos sem assunto, em qualquer lugar, a qualquer momento, com qualquer pessoa só repetimos: “Que calor!”, minto? Outro dia, num restaurante, cumprimentei a atendente e antes de qualquer coisa, achamos graça, pois já sabíamos uma o que a outra diria, comentamos que estamos sem imaginação, mas bem observado pela gentil moça o calor é mesmo o protagonista do momento.
Por todo lado, as pessoas estão com os rostos abatidos, suando, evidentemente cansadas. É o preço pelo pouco cuidado com a natureza, sim, não há desculpas. Somos responsáveis pelo mal que nos fazemos. Enquanto acharmos que a responsabilidade é apenas dos que não reciclam o lixo; dos que usam carro como transporte; daqueles que desmatam e poluem as águas dos rios; das donas de casa atormentadas que jogam óleo no sanitário e lavam seus quintais e calçadas com mangueiras diabólicas; das criancinhas encapetadas que mascam chicletes e jogam pela rua possibilitando o encontro desses com sacolas plásticas, pneus e garrafas PET... Enquanto forem apenas os outros, não zelaremos por nossa casa maior.
Todos nos alimentamos, nos agasalhamos, nos transportamos (por um veículo ou outro), nos medicamos, nos agradamos com o supérfluo, enfim, contribuímos para que haja o desgaste do meio ambiente que nos hospeda. Nossa efêmera existência contribui de forma nada efêmera. Só com essa convicção profundamente enraizada, conseguiremos melhorar as condições naturais do planeta. É a nossa experiência de viver que precisa ser revista. Todos os nossos hábitos alteram a paisagem em menor ou maior grau. Será que estamos dispostos a sair do apontar os hábitos alheios e rever nossas posturas cotidianas, inclusive de consumo? Será que conseguiremos vislumbrar nosso futuro sem fartura de água e com energia a preço impensável? Pois é fato que em algumas regiões do Brasil, como o Nordeste, a vida já se adéqua à água possível há muito tempo; esta lição de casa nos atinge no Sudeste, alcançaremos as estrelinhas de tarefa bem feita?
Não adianta economizar água e intensificar o uso da energia elétrica que no Brasil está muito aquém de novas possibilidades; não que não tenhamos sol e vento a contento, mas faltam competência e vontade política de adequada gestão. Dessa seca que nos aflige com as constantes e aterrorizantes notícias do baixo nível das represas, nos jornais matutinos; que chegam à comédia de políticos e diretores de empresas e institutos tentarem nos convencer o contrário do que é óbvio: há racionamento, pois as torneiras não mentem; desses dias em que nossas pernas incham e nossa mente nubla pelo calor; que fique a lição mais importante: nada é inesgotável. Nada. Que sejamos mais sábios em nossa casa maior.
Sônia Gabriel
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