(Jornal de Caçapava, 06 de fevereiro de 2015.)
Numa dessas postagens em rede social, um vídeo comove por mostrar dois adultos, bailarinos, imitando a coreografia ingênua de uma criança ainda bem pequenina. Nos comentários, a professora Maria do Amparo Gama escreve sobre o que a tocou: a generosidade dos adultos em se adequarem à coreografia infantil. O vídeo é uma delicadeza, um momento de descontração. O comentário se tornou um sopro, um sussurrar que me fez pensar no quanto anda nos faltando generosidade para com as crianças. Não vou nem considerar o que todos já sabemos, vemos todos os dias exposto nos jornais, nas ruas, nas redes sociais, na televisão, nas vitrines. A exploração, sob tantos aspectos, daqueles que sequer podem entender ainda do que são alvos. Vou considerar apenas a falta de generosidade com a qual convivo e muitas vezes já me peguei fazendo parte.
Nós estamos esquecendo nossa importância na vida das crianças e adolescentes, estamos nos isentado da responsabilidade que temos para com eles. Estamos nos igualando a eles no descompromisso para com suas vidas e educação. Infelizmente os julgamos pelos atos que praticam sem considerar nossa parcela de responsabilidade. Tem se tornado muito comum os juízos de valores serem mais enfáticos que as considerações pedagógicas e psicológicas.
Nossas crianças e adolescentes estão cada vez mais indóceis, mais agressivas, mais desrespeitosas. Escutamos, presenciamos e somos vítimas de cada absurdo nas salas de aula que até na ficção seria extremado. Violência física, palavras desferidas como armas, palavrões, gestos, posturas inadequadas para qualquer ambiente, muito menos um ambiente educacional, nos desencantam, nos ofendem e nos desanimam. Até aqui nenhuma novidade para quem trabalha em muitas de nossas escolas. Esses relatos são exaustivamente repetidos pelos colegas educadores e mesmo aqueles que se calam em público, que mostram apenas o adequado da relação por receios óbvios de serem repreendidos, nas conversas de desabafos evidenciam toda a calamitosa situação.
A relação entre adultos e adolescentes sempre foi conflituosa, é um momento delicado, momento de transformações e construções internas em que a presença dos adultos seria essencial. Se não conseguimos nos fazer presentes e influenciadores no que consideramos importante para a vida em sociedade, como podemos condená-los por seus comportamentos que nos afrontam?
Questionamos que a mídia e o mercado não permitem às nossas crianças e adolescentes que sejam o que são; nos indignamos, mas diante das dificuldades de relacionamento dentro das famílias e das escolas, muitas vezes esquecemos que estamos trabalhando, convivendo e formando crianças e adolescentes. Por mais que eles se comportem como se não o fossem, nós os pais, educadores e preparados para o exercício da profissão não podemos esquecer do que realmente são.
Reflitamos.
Sônia Gabriel
3 comentários:
Amo seus escritos, que me deliciam, sempre!
Amo você!
Um abraço enorme da
Ludmila
Amo seus escritos que sempre me deliciam e me fazem refletir.
Amo você!
Abraço saudoso da
Ludmila
Ludmila, sua opinião é muito importante para mim. Um norte. Agradeço sua leitura, suas considerações, seu carinho. Paz e bem!
Sônia Gabriel
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