quarta-feira, 29 de junho de 2011

Coluna Crônica Jornal de Caçapava: Ensinar e aprender.


(Jornal de Caçapava, 24 de junho de 2011.)


Sempre me perguntam por que ainda dou aulas. Fico imaginando se médico, engenheiro, administrador, padre, também escutam essa pergunta. A profissão de professor está tão desvalorizada pela sociedade que acham absurdo alguém amar o que faz. Pela enésima vez, respondo: “Não paro porque amo minha profissão”.
Já escutei de tudo dos ditos intelectuais, desde que estou perdendo meu tempo como que estou jogando pérolas aos porcos. Porcos? Bem, eu trabalho com pessoas.
Do cansaço de tanto escutar atrocidades é que estou escrevendo sobre meu trabalho.
Primeiro, o descaso com que a sociedade trata a profissão docente é proposital, quem pode imaginar uma sociedade plenamente educada, consciente de seus deveres e direitos, articulada em suas tomadas de decisões, confiante em sua visão, sem necessitar dos formadores de opinião da mídia e do poder? Já imaginaram um país inteiro de eleitores com formação educacional profunda, consistente e crítica?
Claro que não! A quem interessa tanto?
Minha profissão é parte importante de minha vida, não que eu a considere apostólica e redentora de todos os males sociais, a mãe de todas as profissões, na verdade nunca gostei dessas declarações. Minha profissão é importante, pois permite que as pessoas cresçam, realizem sonhos, tenham ferramentas para lutarem por suas vidas com dignidade.
Ser professora me faz feliz, pois me possibilita um aprendizado constante, a energia dos que aprendem e crescem alimenta a minha busca pessoal pela sabedoria. Sou plenamente consciente de que, só, não conseguirei mudar nada, reflito sempre sobre as dificuldades de meu trabalho e a falta de valorização do poder público, questiono os professores que caem na profissão, que fazem dela um bico, e não têm o menor respeito pelo ser humano. Sei dos descasos de muitos alunos, dos pais que pouco se interessam por seus filhos, dos colegas que não fazem e não permitem que façamos nosso trabalho da melhor forma possível.
Não sou uma idealista, não viajo no surrealismo de ser resposta de tudo.
Faço meu trabalho da maneira mais profissional possível e busco formas de ser valorizada em minha profissão e nos caminhos que construo para minha sobrevivência. Não tem sido possível sobreviver dignamente só dando aulas na rede pública.
Mas, não aceito e nem admito críticas infundadas de quem nunca trabalhou em uma sala de aula, teorias e práticas impostas por doutores em tudo, menos em sala de aula. É bem verdade que a culpa é da categoria. Se ela não se expõe, não debate, deixa espaço para todos que acham que entendem de Educação. Resultou no que está diante de nossos olhos.
Com longa experiência nas redes privada e pública, não desanimo de meu trabalho, sei da importância que ele tem de ser um elo na formação de um ser que vai poder construir uma vida digna, crescer intelectualmente e participar da sociedade de forma produtiva e positiva; para mim, é uma grande honra.
Precisamos, nós professores, tomarmos conta de nossa profissão. Termos um discurso coerente com nossa prática profissional e nos colocarmos com dignidade frente a essa avalanche de desrespeito e desmerecimento, venham de onde vierem.

Sônia Gabriel

4 comentários:

Anônimo disse...

Querida Sônia,

vontade de te abraçar: você foi simplesmente BRILHANTE! Cabe a cada um de nós a atitude de valorizar o trabalho do professor - que pra mim é sagrado, nada menos que isso.
Abraços,
Paulo

Anônimo disse...

Oi Sônia

ninguém nos entende!!!!!

ouço quase todo dia das colegas de trabalho..." não sei o que você está fazendo aqui". O povo não é feliz e não aceita que sejamos !!!!!!!!!

Beijocas

Ana

Anônimo disse...

Ótimo. O prazer do professor é, como o do arquiteto, contemplar, em pespectiva, a grandeza da sua obra.
Nélson

Anônimo disse...

Sônia, nobre colega!
Tal e qual você...
Larissa, minha aluna querida, ontem me perguntou: "Professora, a senhora gosta de dar aulas?" Hummmmmmmmmmmmmm!!!
Só consigo responder uma coisa: Amo o que faço...
Beijos,
Amparo.

Em 29/06