terça-feira, 28 de agosto de 2012

Uma história de Luiz Fernando Villela


Mais uma história, que bom! Este Vale é encantado mesmo!

" Sônia,
Hoje , dia de St. Agostinho, encaminho para colocar no blog, se achar conveniente, a Oração de Santo Agostinho. Em seguida,  um " causinho" meu.
bjs.
Luiz Fernando."


A Morte não é Nada
Santo Agostinho 

A morte não é nada.
Eu somente passei
para o outro lado do Caminho.

Eu sou eu, vocês são vocês.
O que eu era para vocês,
eu continuarei sendo.

Me dêem o nome
que vocês sempre me deram,
falem comigo
como vocês sempre fizeram.

Vocês continuam vivendo
no mundo das criaturas,
eu estou vivendo
no mundo do Criador.

Não utilizem um tom solene
ou triste, continuem a rir
daquilo que nos fazia rir juntos.

Rezem, sorriam, pensem em mim.
Rezem por mim.

Que meu nome seja pronunciado
como sempre foi,
sem ênfase de nenhum tipo.
Sem nenhum traço de sombra
ou tristeza.

A vida significa tudo
o que ela sempre significou,
o fio não foi cortado.
Porque eu estaria fora
de seus pensamentos,
agora que estou apenas fora
de suas vistas?

Eu não estou longe,
apenas estou
do outro lado do Caminho...

Você que aí ficou, siga em frente,
a vida continua, linda e bela
como sempre foi.



   
LIÇÃO DE HUMILDADE A UM ORGULHOSO

"A presença de Deus na vida da gente, no dia a dia , é constante e atuante nos mínimos detalhes, nós é que não percebemos, tão absortos que estamos em nossas tarefas e preocupações mesquinhas da sobrevivência.

Se tivermos um pouco mais de calma e tranquilidade para nos examinarmos profundamente, ao menos uma vez por dia, veremos que somos cegos ou então não queremos perceber que Deus está ao nosso lado e quer nos ajudar em todos os aspectos, desde que estejamos disponíveis a aceitar esta ajuda e com sinceridade na alma, desejarmos nos transformar em pessoas melhores.

Esta afirmativa eu já tinha pressentido através de minha fé, mas há dois dias tive um exemplo concreto de como é intenso e profícuo o nosso diálogo com Deus, mesmo que não nos apercebamos disto.

Somos amados e como tais, únicos e individualizados perante o Ser supremo, que nos trata e nos considera como filhos queridos a quem todo o bem é desejado.

Domingo à noite, cheguei do Sítio como sempre, cansado e louco para tomar um banho , lanchar , ver televisão e dormir no ar condicionado, para fugir do calor senegalesco do Rio.

Como nossa empregada está de férias, a Lena sugeriu, naquele tipo de sugestão sem alternativas de recusa, que melhor seria que eu fosse com ela ao supermercado comprar algumas coisas para o lanche e outras pequenas coisas para a semana, o que evitaria dela ter de fazer isto sozinha na segunda-feira e voltar carregada de sacolas para casa.

Prontamente aceitei e depois do banho, cansado assim mesmo, fomos ao supermercado perto de casa, e depois de selecionar o que comprar, nos dirigimos ao caixa para o pagamento. Estavam todas as caixas cheias, parece que todo mundo deixou para fazer compras Domingo à noite.

Na minha frente, tinha uma senhora de aparência simples, humilde até, com suas sacolas de compras, que ao chegar a sua vez, depois de passar todos os produtos na caixa , abriu e despejou uma sacola de moedas, sem uma nota sequer, tudo em moeda, a maioria moedas de R$ 0,1 e R$ 0,5.

Cansado e desanimado, vendo o tempo que perderia ali até que contassem todas as moedas, eu lamentei em voz alta, tipo “ai meu Deus”, “ o que é isto! “ e etc. A mocinha da caixa até que foi paciente e solidária com a senhora das moedas, contando tudo , uma por uma , sem queixas nem reclamações.

Tudo conferido, o dinheiro das moedas não foi suficiente, e as compras todas foram separadas e deixadas de lado, até que a senhora fosse buscar mais moedas para inteirar a quantia necessária ao pagamento de tudo. Imaginem o tempo que durou tudo isto e eu ali , em pé, exausto, esperando esta maratona terminar!

Na minha vez , apareceu na tela, ao pagarmos com o cartão do “ Pão de Açucar” , que era meu aniversário e a mocinha deu os parabéns em nome da empresa e etc e tal, e ao finalizarmos tudo, ela me deu uma lição de paciência e humildade, dizendo em tom de brincadeira que a senhora humilde iria em minha festa de aniversário.

Como eu estava exausto, não disse nada, absorvi a brincadeira e fui embora.

Em casa, ao deitar, fazendo uma retrospectiva do dia, arrependi-me profundamente da minha intolerância, da impaciência, da falta de solidariedade com os mais humildes, da minha ignorância e falta de sensibilidade , vez que não me custou nada aguardar um pouco enquanto aquela senhora pagava com moedas suas compras.

Pensei o quanto fui rude e contrário a tudo que penso e creio, ao manifestar meu desagrado com aquilo. Como diz São Paulo, percebi que “ não faço o bem que quero, mas o mal que não quero” .

Com calma, entendi que aquela senhora economizou ou se esforçou muito para fazer aquelas compras , talvez tudo fosse para seus filhos, que a esperavam famintos em casa, ou pior, em um barraco na favela.

Com minha impertinência e insensibilidade, não fui capaz de perceber isto imediatamente e lamentei o atraso e a situação que ela causou em alto som, o que certamente a deixou mais constrangida ainda do que seria necessário , aumentando sua vergonha e humilhação.

Do fundo de minha alma, ao perceber o erro que tinha cometido, arrependi-me profundamente, e pedi , em silêncio, ao meu Deus de Bondade e Misericórdia que me perdoasse, e que esta ocorrência me servisse de lição, me alertasse do quanto eu estava longe de fazer minha vida cada vez mais coerente com minha fé.

Na segunda-feira, pensei nisto várias vezes, e em missa diária das 18 hs , ao chegar como sempre mais cedo à igreja, em profunda reflexão e com toda a sinceridade, pedi perdão pela minha intolerância e falta de sensibilidade, na contra-mão do espírito cristão que deve reger minha vida.

Com a certeza do perdão e aliviado da culpa, já que o meu Deus foi boníssimo ao me dar o discernimento de perceber meu erro gravíssimo, comecei minhas orações individuais até o início da liturgia.

Não só assisto como participo intensamente da missa diária, o que para mim é um alimento espiritual inigualável, e penso que todos deveriam se inteirar melhor do que é uma missa, o que significa, para que serve, qual o objetivo, enfim, penso que a falta de conhecimento e estudo sobre a missa , seu simbolismo e significado , fazem com que muitos cristãos deixem de aproveitar esta maravilha e a tenha, quando muito, como uma obrigação a cumprir determinada pela Igreja e não como um verdadeiro encontro com Cristo, que alimenta a alma e a plenifica de entusiasmo pela própria vida. Não é hora de considerações teológicas, mas sim de contar a minha experiência concreta da presença de Deus em minha vida e com toda a certeza, na vida de todos nós.

Apesar das maravilhas da Missa, tem uma coisa que não obstante eu entender o significado, eu não gosto, não me sinto bem em fazer, que é a saudação após a oração do “ Pai Nosso”, aquela saudação em dizemos a quem está ao nosso lado – “ A Paz de Cristo”. Sinceramente, não gosto , sou tímido, não vejo sentido em sair cumprimentando as pessoas ao lado, pessoas que nunca vi e talvez nunca mais verei.

Já tentei alguns subterfúgios, como me sentar em lugar isolado, fingir que sou doido e abaixar a cabeça, não cumprimentar ninguém e etc, mas a verdade é que se a pessoa me estende a mão, não sei deixá-la com a mão estendida e a cumprimento, mesmo sabendo que todas as gripes se pegam pelo toque das mãos , mesmo imaginando onde aquela pessoa que me cumprimenta colocou suas mãos antes e etc.

Como não poderia indefinidamente ficar alternando meus subterfúgios, optei por obedecer a liturgia e mesmo um pouco ressabiado, cumprimento aqueles que estão ao meu lado.

Pois bem, retomando o fio da meada, o que eu quero dizer é que, após o meu sincero arrependimento , logo após as leituras do dia, senti uma vontade imensa de mudar de lugar na igreja, o que nunca ocorre comigo, até porque minha timidez me impede de ficar circulando, chamando a atenção, quando todos estão sentados , com atenção na liturgia. Mas o fato é que comecei a sentir um vento altamente incomodativo e decidi mudar de lugar e me dirigi para os bancos da frente, o que também não faz o meu gênero, pois fico sempre quietinho alí pela lateral. do templo.

Sentei-me e me organizei novamente, ajeitando tudo de novo, o livrinho, as chaves no bolso, conferi o celular desligado, enfim estas manias que um cara meio neurótico com arrumação tem.

Tudo certo, retomei a minha atenção, quando para meu total espanto, surpresa e choque, vi que tinha sentado ao lado de uma mendiga, uma senhora de idade, negra, toda maltrapilha, suja, com um terço todo enegrecido pelo uso nas mãos imundas.

O mais espantoso é que esta senhora , após meu rápido exame, estava demonstrando um fervor surpreendente, acompanhava tudo como se de fato estivesse vendo ali na frente o Cristo Ressuscitado, tal a sua devoção e intensidade participativa.

Ali me dei conta de que fui para aquele lugar devido ao espaço vazio em torno dela, o que não percebi a tempo.

Fiquei ali sem saber o que fazer e de repente entendi a lição e a penitência a mim destinada. A lição veio mais rápida do que eu esperava. O meu Deus de bondade e misericórdia me conduziu para aquele lugar , e então com mais certeza ainda do perdão e de seu amor por mim, compreendi a lição e o castigo que um pai amoroso dá ao filho.

Exatamente na parte que não gosto da missa, que é a saudação da“ Paz de Cristo”, fui conduzido a permanecer ao lado de uma pessoa igual à senhora das moedas, entendendo ainda que deveria me despir de todo o preconceito, de toda vergonha, fazer-me simples e humilde como elas são e mais ainda, entendi que deveria ser verdadeiro irmão delas, solidário com a pobreza e a dificuldade da vida de cada uma.

Ao captar a lição, fiquei todo arrepiado com esta conclusão e decidi que ao ser ordenada pelo Padre celebrante a saudação dos irmãos, antes que a senhora humilde esboçasse qualquer reação , eu seria o primeiro a me dirigir a ela e saudá-la, irradiando toda a simpatia e amor de que seria capaz , em uma tentativa desesperada de fazer com que ela sentisse minha sinceridade de propósitos, mesmo que eu nunca a tenha visto antes . Consegui esta proeza , pois ao cumprimentá-la, recebi de volta um sorriso puro, simples e verdadeiro e observei em seus olhos a sua satisfação e alegria , e com as forças de suas mãos sujas , com o terço entrelaçado nos dedos de unhas pretas , aquela senhora que me pareceu ser uma mendiga, negra, velha e imunda, desejou-me uma paz que do fundo da minha alma senti ser autêntica , a verdadeira “Paz de Cristo”.

Assim, de uma só vez, recebi duas lições de meu Deus, fiel , amoroso, misericordioso e bondoso com o filho . A resposta do pedido de perdão veio imediatamente, acompanhada ainda da lição de humildade que eu precisava receber.

Mais do que nunca , peço e pedirei sempre que eu seja capaz de perceber meus erros e desatinos para poder repará-los, e assim fazer com que meus atos e a minha vida diária sejam cada vez mais coerentes com o que creio , o que sem a ajuda divina, é impossível .

                                               Rio, 13 de março de 2007.
                       LUIZ FERNANDO CALDAS VILLELA DE ANDRADE"


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