quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Uma história de Luiz Fernando Villela, outra!


Gente, este ano vocês ficaram animados! Que bom!


“ SEJA FEITA VOSSA VONTADE

ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU”

                                        “UM BEIJO DE MARIA”

Pensei em várias maneiras de começar a contar a vocês o que me ocorreu hoje. 
De fato, sentar no computador e relatar um acontecimento cheio de emoção não é fácil. 
Hoje, dia 8 de dezembro, Dia Santo de Guarda, em que a Igreja celebra a festa de “Imaculada Conceição de Maria” , ganhei um presente , que interpretei como sendo um beijo , um carinho, uma palavra de conforto e consolação de “ Maria” , isto é, de Nossa Senhora da Conceição. 
Não pretendo aqui ser piegas, ou tecer algumas considerações teológicas, se bem que poderia e deveria, mas isto fica para outra oportunidade, hoje simplesmente quero contar como fui invadido por uma onda de Paz, alegria, conforto e sobretudo da certeza de que a minha Fé tem fundamento , a minha Esperança , ou seja , o depósito de minha confiança nas Mãos Divinas , é a minha salvação e a convicção de que nela devo permanecer , com a força da Perseverança. 
Depois de pensar em como começar a narrar , decidi pescar alguns fatos do passado e concatená-los no tempo , para melhor entendimento. 
Trabalho hoje em Botafogo, na rua São Clemente , perto do Colégio Santo Inácio, onde estudei por todo o primário, o ginasial e os dois primeiros anos do curso Clássico. Apesar disto , desde que de lá saí em 1966 , para cursar Direito na PUC , não mais voltei ao Colégio. 
Tenho ido à missa todo dia ao final da tarde , na Paróquia de São Paulo Apóstolo perto de minha casa, em Copacabana, mas hoje, como não é feriado e sim Dia Santo , e como a vida continua, tinha um compromisso profissional às 17 hs. em Ipanema, o que me impossibilitaria de ir à minha Missa diária , como faço sempre. 
Assim, fiquei pensando em como e a que horas poderia ir à minha Missa, logo hoje e culpei-me por não ter feito isto de manhã cedo, às 7 ou 8 hs da manhã. 
Mas , como diz minha filha Nathalia , não adianta chorar o leite que derramou e estava então tentando ver qual seria a melhor maneira de resolver isto. 
Cheguei ao trabalho e a Tânia estava ligando para o Colégio Santo Inácio a pedido de meu amigo Sergio , que precisava resolver uns problemas de seus filhos , quando então dei-me conta de que caso houvesse Missa lá , na hora do almoço, isto é , às 12 hs, para mim seria ótimo. Pedi que ela perguntasse os horários da Missa e realmente teria uma às 12 hs , o que veio a calhar. 
Confesso que com alguma emoção retornei a pé na São Clemente rumo ao “ meu colégio” o que eu não faço a exatos 40 anos. Entrei na Igreja e procurei um banco mais isolado, para poder ficar sózinho e rememorar toda a minha infãncia e adolescência , os amigos, as aulas, os professores, o recreio, enfim toda a minha vida ali, das calças curtas do primário às reviravoltas da adolescência e início da juventude. 
Sentado ali naqueles bancos , lembrei-me em especial daquele templo, dos mármores rosas, das colunas, dos altares laterais , das missas dominicais, (pois no primário éramos obrigados a ir à missa aos domingos , com uniforme de gala, com a vantagem de comer o pão-doce depois, na fila da saída) e sobretudo, lembrei-me da minha primeira comunhão , de uniforme branco e ainda de meu tempo de coroinha, junto com meu querido amigo Manuel Francisco, o Ciço, e Rubens Vaz, o Rubinho. 
A Missa era ainda em latim, de costas para o público e era tudo decorado na ponta da língua , eu fazia questão de não errar a hora da campainha na consagração, porque seria um vexame tocar em hora errada. Nunca errei, ainda bem, como nunca troquei a garrafinha de água pela de vinho . 
Lembrei-me do confissionário , dos Padres, das filas de entrada e saída da Igreja mas não consegui me lembrar dos pecados, sinal de que não eram tão graves assim, pelo menos até aquela época. 
Estava ali , perdido em minhas memórias e identificando cada imagem da Igreja marcada como tatuagem em meu coração, os Santos nos vitrais, as estátuas , o piso de ladrilho hidráulico, os bancos de madeira, a pintura do teto , a imagem central de St. Inácio no altar e etc , quando o povo começou a chegar e para minha surpresa, todos com bandeirinhas brancas , alegres, muitas crianças vestidas de anjinhos e etc., o que me levou logo a entender que seria uma missa festiva em homenagem à Imaculada Conceição. 
Começada a cerimônia, emocionei-me com as músicas , tão conhecidas e por isto tão reconfortantes para a alma! Que coisa bonita, todos cantando alegres, balançando as bandeirinhas, realmente uma bela demonstração de fé e agradecimento pelas graças alcançadas à Virgem Maria. 
No silêncio da Liturgia da palavra, fui invadido por uma emoção gostosa de paz, como se estivesse realmente em casa depois de uma longa e cansativa viagem. Agradeci a Deus por este momento e mais uma vez, entre tantas e incontáveis vezes, orei pela alma do Fernando, a quem tive o privilégio e a honra de ter sido pai aqui nesta vida terrena. 
Com o coração de quem foi pai na carne, pedi ao Nosso Pai Celeste pela alma de meu filho e novamente tive a plena sensação, no íntimo de minha alma, de que tudo era apenas questão de tempo , para mim , ainda vinculado a esta situação de tempo e espaço. 
Ao meditar com calma sobre o que teria me levado a rever esta Igreja do colégio depois de longa data e ser recebido com uma Missa festiva, em homenagem à Imaculada Conceição de Maria, dei-me conta de que poderia interpretar este fato como uma dádiva de Deus e como um “ presente” de Nossa Senhora, mesmo que imerecido. 
Em seguida, na fila da comunhão, “ caiu a ficha” , pois de imediato percebi o porque daquilo tudo, o porque estava eu alí naquela Igreja, onde não ia a 40 anos. 
Próximo ao altar , onde as pessoas circunspectas comungavam, alguns estavam em cadeiras de rodas e piedosamente aguardavam a vez para participar da Eucaristia, demonstrando que apesar das dificuldades físicas, de todo o esforço necessário para estar ali naquela homenagem , a vida ainda fazia sentido para elas, a esperança era ali renovada , a Fé vencia todos os obstáculos , não importa os sacrifícios físicos a que eram submetidas. 
Percebi de imediato , vendo o sofrimento daquelas pessoas, de que Deus tem um plano, um projeto para cada um de nós e cabe a nós nos entregarmos com confiança ao projeto divino. 
Daí nasce a Esperança, que como entendi , junto com a Fé, nada mais é do que o depósito desta confiança nas Mãos de Deus e esperar, certo de que o seu projeto está muito bem entregue e prevê sua felicidade eterna. Aí está o segredo, entregar não só seus momentos de alegria , mas também os de tristeza, de saúde e de doença, de sofrimento e de dor , renovando sempre esta confiança , com a força da Perseverança na Fé. 
Ao pensar estas coisas também me dei conta de que Deus foi extremamente bondoso comigo e minha família, pois ao executar Seu projeto para o Fernando poupou-nos de um sofrimento de muito maior duração, que seria ver o Fernando em uma situação que , para quem tem Fé e acredita na vida em Cristo após a vida, seria mais dolorosa do que a própria morte. 
Aquelas pessoas em suas cadeiras de rodas, resignadas, serviram para alertar-me que tudo poderia ser pior do que foi . Mostraram-me que preciso deixar de ser egoísta de ver só o meu próprio sofrimento e entender que assim como Fernando não sofreu eu também não devo sofrer, nem tampouco me desiludir das coisas desta vida , mas ao contrário, devo esperar confiante na realização do plano de Deus para mim , tentando viver segundo as prescrições do Evangelho , pois Cristo ali nos disse : “Eu sou a verdade, o caminho e a vida”. 
Portanto, naquele momento nada ficou mais claro e evidente do que as palavras do “ Pai- Nosso” , quando dizemos, “seja feita a Vossa vontade, assim na terra como no céu” . O difícil é colocarmos isto definitivamente em nossa mente e de uma vez por todas entendermos que na qualidade de Criatura devemos nos dirigir ao Criador e pedir que seja feita a vontade Dele e não a nossa, pois nem mesmo nós sabemos o que é melhor para nós. 
Comunguei me sentindo em estado de graça , por estas instantâneas intuições e entendi que hoje não houve acaso, fui conduzido para aquela Igreja naquele momento para ver e entender estas coisas, que apesar de já terem sido muito meditadas , ainda não tinham penetrado no fundo do coração como agora. 
Para concluir devo ainda dizer que após a Missa, fiz uma rápida visita ao “ meu colégio” , andei pelos corredores , fui ao pátio do recreio, vi as enormes salas onde antes eram os “estudos ”, parei na porta de uma das salas de aula onde me lembro que sentei por um ano, porque passei por várias mas só me lembrava desta do primeiro andar, passei por onde era o cinema e por fim quis sair pela Portaria da frente, já que tinha entrada pela Igreja. 
Ocorre que ao sair julguei que seria indelicado de minha parte deixar de agradecer a alguém do Colégio estes momentos e perguntei ao porteiro se seria possível falar com o Prof. Paim , que nem mesmo conheço pessoalmente, apenas sei que é o âncora do Núcleo dos Antigos Alunos. Mais uma surpresa, o porteiro me disse que o Prof. Paim estava na minha frente, ali mesmo, em pé ao meu lado. 
Assustado com mais esta , apresentei-me ao Prof. Paim e conversamos , disse-lhe o que tinha ocorrido e minha experiência , pode-se dizer assim, mística , e com carinho fui presenteado com palavras de amizade e com o belo livro dos 100 anos do Colégio. 
Saí balançado, emocionado e mais do que isto, agradecido a Deus , a tudo que os Jesuítas me ensinaram e a meus pais que tiveram a sabedoria e a oportunidade de me colocarem desde o primeiro primário nesta casa e onde, de uma forma ou de outra, eu também fiz por merecer estudar, tanto que prossegui meus estudos na PUC, de onde também trago excelentes recordações. 
O curioso é que por longos anos esquecemos esta base que o Colégio que nos dá , entramos numa luta corporal com a vida profissional , sofremos com as dificuldades, sorrimos com a vitórias, alegramo-nos e entristecemo-nos com várias coisas, mas só quando realmente as coisas ficam pretas, quando parece que o chão aos nossos pés afunda, é que nos lembramos de que temos dentro de nós algo mais que não vai nos deixar afundar junto, que este algo mais do qual nem nos damos conta de como entrou lá é que vai nos salvar e posssibilitar seguir em frente, não com tristezas e mágoas, mas com alegria e confiança. 
Claro que percebida esta força é preciso nutrí-la , mas aí é mais fácil, o caminho está aberto, o roteiro está traçado, basta seguí-lo , sempre se abastecendo adequadamente. 
Agradeço imensamente ao Colégio Santo Inácio de ter sido instrumento deste presente que recebi no Dia Santo de Guarda em homenagem à Imaculada Conceição de Maria, e mais do que nunca estou convicto de que Deus, que conhece meus pensamentos mais do que eu mesmo, sabendo disto para lá me conduziu para que me sentindo como se em minha própria casa e ainda principalmente , me sentindo ali o menino que fui , despido da roupagem de adulto com meus preconceitos e incertezas, pudesse como criança perceber estas verdades e me entregar confiantemente, como qualquer criança o faz, ao Pai Celestial, minha segurança e salvação. 
Obrigado Colégio Santo Inácio , por mais esta sensacional intervenção em minha vida. 

Abraços. 

Luiz Fernando Caldas Villela de Andrade – turma 1966."


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