(Jornal de Caçapava, 12 de julho de 2013.)
Na Vila Barra do Ariranha acontecia de um tudo, dona Adenísia já tinha nascido, se lembra. Ela, muito menina ainda, frequentava a igreja com a mãe. As mães quando iam para a igreja levavam as crianças. Essa notícia se espalhou por toda a região. Teve um homem que já era casado e mentiu para o padre para poder casar, de novo, com outra pessoa, na igreja. A primeira esposa ainda era viva. Quando chegou a data do casamento, o padre descobriu na hora, e, se negou a casar o homem novamente. Um parente do homem buscou na casa dele uma espingarda e queria obrigar o padre a fazer o casamento senão iria matar o padre. Quando chegou perto da igreja armado, o padre saiu na porta, tinha uma escada, e disse para o homem que era para ele fazer o que tinha vontade, podia atirar naquela hora, mas a partir daquele dia tudo iria se acabar na cidade (vila), não seria mais o que era. Foi o que aconteceu.
A Vila Barra do Ariranha foi se acabando, o rio que era muito grande, com muita quantidade de peixe, o pessoal da região pescava, virou um córregozinho, as pessoas foram diminuindo. O que tem lá é só um pouquinho, mas era movimentado, tinha muita gente. O padre Frei Alfredo Maria do Coração de Jesus, naquela época eles adotavam um nome, foi ele quem rogou a praga e a coisa foi feia mesmo! Muita gente saiu de lá para sobreviver em outro lugar. Ficou só um pouquinho. Hoje em dia, eles já não fazem mais isso (rogar praga).
O homem que queria matar o padre foi embora com a espingarda nas costas, ele viveu muito tempo ainda, já andava com as pernas tortas, tinha problema para andar, mas muitos anos depois, Dona Adenísia o viu de novo e ele estava rastejando pelo chão, que nem um bicho, de barriga mesmo. O povo dizia que era castigo porque o padre, não importa quem seja, é uma autoridade, é um ungido de Deus, a palavra é poderosa, a gente tem que tomar muito cuidado, ela tanto abençoa quanto amaldiçoa.
Sônia Gabriel
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