quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Coluna Crônica Jornal de Caçapava: Praga de Padre no rio Ariranha.



(Jornal de Caçapava, 12 de julho de 2013.)


   Na Vila Barra do Ariranha acontecia de um tudo, dona Adenísia já tinha nascido, se lembra. Ela, muito menina ainda, frequentava a igreja com a mãe. As mães quando iam para a igreja levavam as crianças. Essa notícia se espalhou por toda a região. Teve um homem que já era casado e mentiu para o padre para poder casar, de novo, com outra pessoa, na igreja. A primeira esposa ainda era viva. Quando chegou a data do casamento, o padre descobriu na hora, e, se negou a casar o homem novamente. Um parente do homem buscou na casa dele uma espingarda e queria obrigar o padre a fazer o casamento senão iria matar o padre. Quando chegou perto da igreja armado, o padre saiu na porta, tinha uma escada, e disse para o homem que era para ele fazer o que tinha vontade, podia atirar naquela hora, mas a partir daquele dia tudo iria se acabar na cidade (vila), não seria mais o que era. Foi o que aconteceu.

    A Vila Barra do Ariranha foi se acabando, o rio que era muito grande, com muita quantidade de peixe, o pessoal da região pescava, virou um córregozinho, as pessoas foram diminuindo. O que tem lá é só um pouquinho, mas era movimentado, tinha muita gente. O padre Frei Alfredo Maria do Coração de Jesus, naquela época eles adotavam um nome, foi ele quem rogou a praga e a coisa foi feia mesmo! Muita gente saiu de lá para sobreviver em outro lugar. Ficou só um pouquinho. Hoje em dia, eles já não fazem mais isso (rogar praga).

    O homem que queria matar o padre foi embora com a espingarda nas costas, ele viveu muito tempo ainda, já andava com as pernas tortas, tinha problema para andar, mas muitos anos depois, Dona Adenísia o viu de novo e ele estava rastejando pelo chão, que nem um bicho, de barriga mesmo. O povo dizia que era castigo porque o padre, não importa quem seja, é uma autoridade, é um ungido de Deus, a palavra é poderosa, a gente tem que tomar muito cuidado, ela tanto abençoa quanto amaldiçoa.


Sônia Gabriel


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