Para começar nosso IV Dia Valeparaibano de Contar Histórias com o pé direito...
Vovô viu a uva!
José Antonio Braga Barros.
"Pois bem, senta aí... Ontem foi um dia de saudades! Saudade é claro do pai. Da figura do pai, da voz, do andar, do jeito de colocar as coisas, do modo de manusear as ferramentas. Sobretudo foi um dia de saudade das histórias. Não dessas histórias que estão nos livros, mas das histórias vindas da rua. Histórias quentinhas, como fornadas de pão, ou de bolos assados em fornos de lenha, com serpentina e tudo.
Saudade de cheiros, de cores, de barulhos na sala, de cantorias, de risos abertos. Saudade de convivências calorosas. Saudade das provocações entre amigos, que ficavam no limite da tolerância e do respeito, mesmo com uma boa dose de sarcasmo, para provocar o riso e permitir a revanche, que viria com certeza e na mesma medida.
Saudade de gestos premeditados, mas esperados. Como é bom comemorar o dia dos pais, quando se é filho. Quando se tem o pai por perto, não esse perto espiritual, mas o perto de nos segurar pela mão, de montar um brinquedo, de sorrir das nossas peraltices. Perto desses de calçar os seus sapatos, De colocar a sua gravata, Perto de tentar acender o seu isqueiro de fricção, perto de tirar o seu anel do dedo e vesti-lo imaginando-o muito maior do que realmente era.
Pois com este repertório de filho dos anos 50, 60 lá fui eu tratar de ser um pai para o meu neto. Tudo que vejo quero dividir com ele. Assim, recebendo um belo folder, que na minha juventude era folheto de propaganda imobiliária, logo pensei: Vou brincar com meu neto. Mostrar o carrinho, a piscina, as árvores.
Assim, sentado sobre minha perna, comecei a virar as páginas para aquele ser pequenino de apenas dois anos e cinco meses, como quem lhe mostrava o mundo. Apontando objetos e comentando, na maior simplicidade de avô: Olha o carrinho! Viu o prédio? Olha que céu azul! E todo empolgado ia mostrando cada página e indagando e estimulando uma conversa sem pé nem cabeça para aguçar a inteligência do menino. Então lhe apontei uma árvore no alto da montanha que compunha a paisagem e voltando para o menino lhe disse: viu a árvore? E ele de imediato respondeu: É uma araucária vovô!
Com esta resposta pensei no Caminho Suave: Vovô viu a uva, mas o Samadhi subiu a serra e contemplou a natureza à sua volta. Samadhi viu a araucária e não uma arvorezinha qualquer!
Tenho que ser um avô de futuro e não de passado!"
3 comentários:
Ô Braga Barros! Você é um avô que todo neto sonha em ter! Que belo texto! Que belo avô! Grande abraço, meu querido amigo!
Linda história.
LFVilela
Braga, poeta suave, obrigada por me lembrar, me cobrar e estar com a gente em mais um dia de histórias!
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