(Jornal de Caçapava, 10 de janeiro de 2014.)
Dizem que tudo vai bem quando estamos bem. É fato. Nesses dias de festas, férias, viagens, visitas de e aos familiares, temos aquela pretensiosa sensação de que tudo está ou pode ficar maravilhosamente bem. São dias mais tranquilos, sem pressa do relógio, sem a pressão dos compromissos, energia de sobra para fazer nada.
Já notei que tudo vai mal para quem não está bem. Assim sendo, não posso simplesmente desconsiderar o oposto. Caminhar ao lado de gente equilibradamente positiva pode ser um santo remédio tanto quanto o contrário pode ser um tormento. A tristeza é um troço que contamina. Parece carrapicho, aquilo gruda na roupa e para sair haja esforço.
Tristeza gruda na alma e remédio para isso é mais difícil, bem mais, que tirar carrapichos.
A diversidade do comportamento humano consegue a façanha de apresentar um modelo de gente que aprecia a tristeza ao ponto de só sermos amigos úteis se estivermos fragilizados, adoentados, tristes. Foi muito difícil para eu entender que há pessoas apegadas à dor. Sentem necessidade do sofrimento para estarem, de certa forma, bem. Desconfiam da paz, temem a alegria e esparramam o sofrimento. O que é pequeno se torna intransponível, o que se curaria com um chá necessita de alopatia.
A solidão é caminho óbvio desses, uma passagem para encontro com respostas para as angústias, pois o errado alheio é intolerável e os próprios defeitos estarão sempre protegidos, engavetados sob o olhar condescendente.
O sofrimento faz parte da vida, se manifesta nas derrotas, nas doenças, nas tragédias, nas perdas a que todos somos submetidos. Mas ele não é maior que as alegrias cotidianas. Dar peso sofrido a tudo é patológico, e, disseminar o sofrimento também.
Nas pequenas alegrias, nas vitórias cotidianas de nos mantermos vivos, saudáveis, na companhia daqueles que amamos é que iremos nos abastecer para sobrevivermos aos momentos de sofrimento, que certamente virão, mas não precisam se eternizar em nós.
Esforçarmos-nos para sermos brisa, alento ao próximo, nos faz bem tanto quanto para quem recebe a gentileza. A tristeza tem tratamento, muitas vezes é, realmente, doença. Não podemos nos acostumar com o que nos agride e com o que agride ao próximo, mesmo que a intenção não seja o alimento da ação.
Recordo de uma antiga vizinha, lá em Jacareí, que sempre repetia: “A gente tem que agradecer até o sofrimento, pois faz parte da vida, pois estamos vivos, mas quando acaba a gente “festa” também.”
Concordo com ela.
Sônia Gabriel
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