segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Coluna Crônica Jornal de Caçapava: Intrigas e pecados.



(Jornal de Caçapava, 17 de janeiro de 2014.)

Confesso, há esses dias em que considero se vale a pena insistir em certas posturas, em alimentar a ética, aconchegar-me nas antigas e familiares crenças que destoam tanto do entorno. Sim, admito que se atreva um cansaço de insistir em valores não tão flexíveis nesse tempo de posturas moldáveis, plenamente adaptáveis, enfim.
É, sou humana, o cansaço também me persegue. Nesses dias de moleza emocional e racional, chego a quase aderir aos transeuntes de vielas angustiosas corrompendo carregadores coloniais para sair do estreito caminho e deliciar-se com as verdes paisagens dos favorecidos sem drama de consciência. Recordo aqueles quadros que nossos avós colocavam nas salas: o caminho do bem – estreito, o caminho do mal – repleto de delícias pecaminosas. Lembram-se? O caminho estreito levava ao Céu, o caminho largo levava ao Inferno.
Apossa-se certo desânimo. Mas dura pouco, de pronto vem aquela voz interior martelando que não vale a pena e o tinteiro. Que é pouca a verba honesta, sempre restrita, mas muito o sossego da alma. Que o caminho pode ser espinhoso, mas com tardes floridas e perfumadas quando encerrada a batalha.
Repetimos o mantra da verdade, nos convencemos que ainda temos que insistir no correto, que há de valer, que há de ser bom, que há de trazer consolo manter-se no caminho do bem maior; do bem para todos que lutam e não se corrompem, que não se entregam mesmo sabendo que poderia ser bem mais fácil, mesmo diante de tantos agrados oferecidos.
Seguimos na labuta diária, mas com merecidas noites de sono em paz. O sono ainda é boa moeda de troca, é atemporal.


Sônia Gabriel


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